Sabe, ontem antes de adormecer, escrevi sobre o silêncio.
Escrevi mais ou menos isto:
"Boa noite. Bons silêncios. É o que desejo. Silêncios tranquilos, sossegados, quietos, que acalmem os pensamentos, as emoções e que nos entreguem ao sono movidos pelo genuíno pedido de descanso do corpo e não pela fuga do desespero dos dias ou da angústia deles.
Conheci duas pessoas, profundamente doentes, sequestradas pelo silêncio e nunca mais as esqueci. Conheci outra que falava tanto, mas tanto, para não ter, verdadeiramente, de se ouvir.
O silêncio de cada um é único e sempre que o ouço, questiono-o. É verdade. Às vezes também o temo. Temo pelas vozes que se podem fazer ouvir por dentro, a partir de dentro, temo pelos inquilinos que deixamos habitar nessas moradas internas, temo pelo estado das coisas, quem sabe, pelo vandalismo íntimo provocado pelo silenciar dessas coisas.
Coisas. Coisas que não são faladas, nomeadas e que ficam ali, algures ou nenhures.
Que o teu silêncio seja tranquilo e se não for, que o possas verbalizar, escrever, conversar, partilhar. É tempo de questionar em quem podemos confiar o nosso silêncio. Quem nos poderá ajudar a elaborá-lo. É tempo de questionar sobre quem ouve os nossos silêncios, ou quem, pelo contrário, se serve da sua surdez e cegueira para fazer do silêncio alheio um contentor dos seus próprios gritos.
Conheço quem precisa de tomar uma droga para dormir, para se deixar levar, para se deixar ir, para confiar no sono, no fechar de olhos, no abandono ao escuro, à solidão, ao desejado sonho ou ao temido pesadelo. É isso. Às vezes é preciso coragem até para dormir, para confiar e se deixar ir.
Boa noite e bons silêncios para todos."
(Clique aqui para mais informações sobre a origem destes textos)
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