Terapia com ela: o luto do Eu

Fotografia de Pedro Capelas, desafio de quarentena - sessão fotográfica online.


Não sei se deveria interromper isto... 
Mas mesmo se interrompesse, já nem sei se iria a tempo. 
Está tudo como nunca esteve. 
Está tudo bem. 

Sabe, já não me sinto o mesmo
e isso.... 
Isso custa-me. 

Um ano e meio....
Foi há mais ou menos um ano e meio 
que começámos a terapia, não foi?

Preciso contar-lhe uma coisa.

Todas as semanas, 
sempre que o dia e a hora da nossa sessão se aproximam, 
eu sinto como se o meu próprio funeral se aproximasse.
Não estou a pensar em matar-me, 
Eu estou a dizer-lhe que quando venho cá
sinto que venho para fazer o meu próprio luto. 

Mudar não é difícil!
O mais difícil é fazer o luto do
que fomos durante anos e anos...
e também daquilo que nunca fomos!
O luto do desejo, 
do que desejávamos que tivesse sido, 
mas que nunca foi...

A dor, a doença, o desamparo, o abandono
Era através deles que eu falava consigo. 
E agora? 
Faltam-me as dores... 
Quem é que eu sou sem elas?

A nossa relação é uma obra de arte,
Criamo-la juntos, na dor...
Reparei-me na relação consigo
como o artista que cria
para reparar o mundo que estilhaça por dentro.

Mas os artistas também atacam a sua obra...
A obra que num momento é grandiosa
e no outro é odiada.

Talvez seja por isso que me apetece interromper a nossa relação...
Atacá-la.
Porque está tudo bem, está tudo grandioso entre nós.
E se permanecer assim, sem dor...
poderá um artista criar sem dor?
Poderei fazer o luto do que era 
e recriar-me sem dor?


Este post está ilustrado pelas fotos tiradas pelo meu amigo fotógrafo Pedro Capelas que me desafiou para uma sessão fotográfica em plena quarentena e portanto, para a qual nenhum de nós precisou de sair de casa... 





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