Amar melhor. Sonhar melhor. Aguentar a desilusão. E já agora... a monogamia.



Fazemos o melhor que sabemos com o que temos em dado momento e, por isso, não faz sentido insistirmos no nosso próprio julgamento à distância de meses, semanas ou anos. Mesmo assim, levamo-nos ao banco dos réus todos os dias a pensar o que poderíamos ter feito melhor, que possibilidade ainda temos para reparar os prejuízos de uma certa decisão. 

Quando excessivos, os pensamentos podem tornar-se ruminativos, podem enfraquecer-nos interiormente, bloquear caminhos e deixar pouco espaço mental para a criatividade. "Criar" com compaixão por nós mesmos, um novo sonho, uma nova possibilidade, num empurrar para a frente de jeito livre, leve e mais maduro, mais calmo, com humor e longe de ser perfeito. 

Amar melhor. Sonhar melhor. O amor só pode ser amor se for capaz de aguentar a sua própria desilusão, se se deixar frustrar a si mesmo e aguentar. Aguentar, não por teimosia ou por medo. Mas à semelhança daquela criança que se chateia com a mãe, que protesta quando é frustrada, e mesmo assim aguenta, pois vemo-la rabujenta e enchida de ranho, pouco tempo depois, a tentar acalmar-se no colo da mesma mãe, do mesmo amor. A mãe que ama e a mãe que frustra. 

É assim que compreendo um amor evoluído em contexto romântico. É curioso como esta maturidade para amar traz em si uma grande contradição. Como se para se ser maduro tivéssemos de regredir, de ficar mais pequeninos e frágeis perante o outro, aceitando que ele nos veja chateados e cheios de ranho; um outro que se torna privilegiado por ser o único capaz de desmoronar a nossa muralha defensiva, capaz de aceitar os nossos protestos e que, ao mesmo tempo, nos tira da infantilidade ao negociar, agora como adultos os limites das nossas birras. 

E assim chegámos ao que chamamos de intimidade.

Sexualidade é uma coisa e intimidade é outra. Despir for fora é uma coisa, despir por dentro é outra. 

Esta semana li um artigo sobre o que todos nós já sabemos: que não somos biologicamente monogâmicos.

Estes artigos falam sempre da monogamia enquanto construção social e económica, comparam-nos com as cegonhas, por exemplo, que são monogâmicas porque não têm tempo para cortejar por serem aves migratórias e nós, escolhemos ser ou parecer monogâmicos, porque não temos tempo e dinheiro para mais também. Também os animais que vivem em locais onde há escassez de alimento e de recursos tendem a ser monogâmicos. Não há tempo para mais, meus senhores! Estou a ser irónica, mas realmente, é a conclusão do artigo - e que faz todo o sentido!

Contudo, prefiro pensar que temos uma vida mental mais complexa e evoluída que a das cegonhas e até que a de um gato com cio e que mais importante que o dano económico, que a questão do tempo ou até mesmo da moralidade sexual,  esteja o dano afectivo, da perda de uma ligação, de uma história íntima e única com alguém que ao mesmo tempo que nos frustra, também nos dá colo. Já é tão difícil deixarmos que uma pessoa nos conheça na nossa vulnerabilidade, quanto mais duas ou três ou quatro... Mas isto parece tudo muito romântico e, como andamos um pouco adormecidos e desconfiados dos afectos, então, se calhar faz mais sentido despirmo-nos todos por fora enquanto nos consolamos com os títulos sobre a monogamia não ser natural, títulos que parecem baralhar sexualidade com intimidade e o impacto e importância de ambos, cada um à sua maneira, na nossa vida.


Amar melhor. Sonhar melhor.

















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© Chez Lili

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