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"Sabe, lembro-me como se fosse hoje... Houve um dia em que me cansei. Não. Não foi cansaço. Agora estou a lembrar-me de uma passagem que li recentemente num livro e que dizia que o esgotado é muito mais que o cansado. Enquanto que o cansado esgota a realização, o esgotado esgota o possível. Enquanto que o cansado não pode mais realizar, o esgotado não pode mais possibilitar. É isso... houve um dia em que me esgotei. De repente, houve um silêncio, deixei de querer conversar sobre as coisas, sobre os problemas, já não me zangava. E ele, curiosamente, achava que a nossa relação tinha melhorado, que eu andava mais calma. Não compreendeu que eu tinha simplesmente esgotado todas as possibilidades de lutar por nós.
No início, os conflitos foram sintomas, mais
ou menos como um aumento de temperatura - uma pequena febre sem importância - a sinalizar uma gripe. Durante muito tempo, a temperatura entre nós aumentava e diminuía todos os dias. Os sintomas sinalizam a doença, estão
ali para nos defender, não é? Para que façamos algo e tomemos medidas antes que
o corpo colapse de vez. São um alerta para que cuidemos de nós.
Eu tentei
alertá-lo tantas vezes. Para mim, eu estava a lutar por nós, mas para ele, eu estava
sempre zangada e era incapaz de ser feliz. E foi então que eu esgotei. A nossa
separação começou com conflitos, com sinais de alerta, mas não acabou com
conflitos! Acabou serenamente. Acabou com a minha desistência, com o meu desinteresse. Um
distanciamento silencioso. Eu não sabia bem o que fazer, mas comecei a pouco e
pouco a planear a minha saída, a resgatar a minha individualidade. Quando eu
parei de lutar por nós, o silêncio deu-me espaço mental para eu construir um
mundo só meu e traçar um plano.
E acabou tudo quando ele achava que já estava tudo bem entre nós. E, nesse momento, ele nem oportunidade teve de intervir na situação..."
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