Pontas soltas sobre o fim-de-semana passado




Eu sei que a festa de Verão da TVI foi no Sábado passado (20/21 de Julho) mas coincidiu com a festa de anos do meu sobrinho e com o espetáculo de dança da minha afilhada, por isso, o convite das crianças ganhou. Também troquei a praia do Algarve pelo sossego da praia da Aguçadoura. Não me espalhei numa toalha a tirar fotos de biquini. Estava fresco e deu antes para um caminhar lento e introspectivo ao longo do passadiço.
No Domingo fizemo-nos à estrada e fomos por aí fora, até Gerês e até Braga, ao Bom Jesus.





Supostamente estava de férias (da faculdade) mas não me sentia totalmente de férias. Tinha o hábito do stress, do pensamento acelerado, dos prazos para cumprir e tinha a adrenalina ainda a correr pelo corpo.


Identifico-me com quem se se multiplica por dois ou três campos de trabalho, por motivos financeiros ou porque, simplesmente, vive numa espécie de poligamia profissional e o gozo por mais de uma atividade não os deixa escolher. É assim que eu vivo. É a representação, é a psicologia e é a legendagem. Pelo caminho já fiz muitas outras coisas.




Curioso, que a dedicação a várias atividades e o próprio duplo emprego nem sempre é visto como uma mais valia, como um ponto forte no indivíduo. Embora a lente esteja a mudar em Portugal, ainda são muitos os que associam esta dedicação pouco exclusiva a um só ofício, a dispersão, a falta de foco, a falta de decisão e a falta de capacidade de compromisso até.

Em Londres, por exemplo, lembro-me que eram raros os casos de dedicação exclusiva e continuada a uma só atividade. A própria reforma era uma oportunidade para a exploração de paixões antigas e para outros investimentos. Também compreendo que muitos CEOs querem que, naturalmente, os seus funcionários se identifiquem ao máximo com o projeto da empresa e que o sintam como uma extensão de si mesmos, do lado mais pessoal até, motivando o tal “quilómeto extra” físico, mental e emocional - não renumerado na maior parte das vezes - deixando o trabalho permear a vida familiar, conjugal, parental, individual e de lazer.
Ora aqui está um querer que começa logo com uma contradição. Freud já nos dizia que amar e trabalhar são as duas grandes fontes da nossa vida. Amor e Trabalho e não Amar ou Trabalhar!



Também entendo que a valorização através do trabalho depende mais do próprio indivíduo enquanto que a realização através da família, do laço social, dos afetos é um campo mais complexo, sobretudo agora, longe do tempo onde a família assumia primariamente um papel estrutural e funcional. Não era raro ouvirmos dizer que o amor vinha depois do casamento, crescia das árvores, com a convivência e com os filhos. Sabe-se até que o amor era, infelizmente, muitas vezes vivido fora do próprio casamento. Era um tempo diferente. Vale a pena um diálogo sem julgamento e hostilidade sobre estas diferenças. Afinal, se dantes as pessoas sabiam exatamente o que esperar do papel do homem e da mulher numa relação, hoje estamos todos à procura de uma forma de nos relacionarmos melhor à luz de todas as transformações que temos sofrido em tão pouco tempo. Li há pouco que houve mais mudanças nas últimas três décadas, nas crenças e expectativas que temos de nós, do nosso papel, enquanto homens e mulheres, do que as mudanças ocorridas a este respeito em toda a história da humanidade. Pode haver assim uma tendência para esperar o mesmo de mulheres e homens diferentes, em tempos e contextos diferentes, em relações e famílias diferentes. E, infelizmente, por cá ainda temos um longo caminho a percorrer coletivamente na atualização destas mudanças todas dentro das nossas cabeças (e, já agora, nos nossos corações). É preciso dar tempo para o Tico e o Teco se entenderem. De mãos dadas com todas as transformações e dificuldades sociais, económicas e profissionais, eu acredito que assentar (como os nossos pais dizem) ainda seja possível, mas que seja um assentar sem pressa, livre, sem medo, longe de satisfazer uma vaidade ou expectativa social.





(...)

Dizia eu, lá em cima, que tenho três atividades. Na faculdade conheci a Ana, e muitas vezes, a Ana em vez de me perguntar se queria ir ao bar beber um café, ela convidava-me para ir estudar para a biblioteca, para aproveitar aquela meia hora livre aqui e acolá. É uma questão de gestão de tempo, sobretudo no caso dela que para além das responsabilidades académicas, também trabalhava, tinha duas filhas e era casada. No primeiro semestre a Ana deve ter sido uma das melhores alunas do nosso núcleo, e com a Ana eu aprendi, no meio do meu stress, que as coisas se fazem, ou se vão fazendo. Mais do que perder tempo a competir, a criticar, a ser vítima, a esperar por melhores dias, por mais vontade, é preciso fazer, é preciso fazer com paciência e, junto de quem nos potencia seguindo um dia de cada vez. É complicado estudar aos 32 anos, mas em vez de nos focarmos na linguagem dos problemas, importa apresentar a linguagem das soluções e, neste sentido, estudar numa fase mais tardia também pode ser mais fácil  por vários motivos:  pela riqueza das vivências e aprendizagens anteriores que são uma mais valia na assimilação do novo conhecimento; pela nossa maior capacidade crítica e seletiva; pela forma como já não romantizamos tanto o que está escrito nos livros e a profissão em si e pela maior consciência do que é o mercado de trabalho e das dificuldades e deceções de uma prática a longo prazo de uma dada profissão.


O fim-de-semana passado (20/21 de Agosto) foi assim, numa tentativa de descanso e a fazer um balanço de tudo, da intensidade deste ano, do caminho e das decisões tomadas, do lugar onde estou. E foram estes os pensamentos que fui tendo ao longo do passadiço. Ideias soltas, sobre muitas coisas.Obrigada a quem me ajudou, a quem tornou o processo mais fácil através de uma mensagem, de uma palavra e de um gesto, de uma maior tolerância nos momentos em que andava mais irritada, cansada e vulnerável até.

Um abraço, até já.












com a Ergovisão:)
óculos de Luís Buchinho.

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