Já não passo por aqui há algum tempo. Estes posts antigos estão cheios de pó. É tempo de voltar, de abrir as persianas, de deixar o cheiro a maresia entrar. É Verão. É tempo de recomeçar. Houve um momento, um breve momento, em que suspendi este blog. Há uma ambivalência em mim, uma vontade de comunicar, de escrever, de fotografar, de partilhar, de representar, alternada com o desejo compensatório de me recolher e refugiar e ficar no meu mundo, nas minhas leituras e paixões, nas minhas coisas e, mais recentemente, nos meus estudos.
Para quem não sabe, depois de dez anos divorciada da Psicologia e do meio académico, lá voltei. Por vezes, a vida tem outros planos para nós e força-nos a estar em lugares que descobrimos ser, afinal, a nossa vocação. É verdade. Tem sido difícil, o ano mais difícil e cansativo da minha vida. Dormi pouco, mas aprendi muito. Acordava sempre com adrenalina para ir para as aulas da professora Medina e da professora Salomé. Eram casos atrás de casos, análises, relatórios, debates sobre saúde mental, de adultos, crianças, idosos, adolescentes... Emocionei-me muito, muitas vezes. Sabíamos que tínhamos de estar atentos aos nossos processos e ao nosso sentir pois o nosso mundo mais subterrâneo, os nossos conflitos poderiam emergir com as aprendizagens que íamos fazendo.
Sermos movidos pelo sofrimento dos outros é bom, denota empatia, mas que essa empatia não se torne maligna ao ponto de contaminarmos os processos dos outros com os nossos conflitos. A pouco e pouco vamos melhorando, tudo se acalma, aprendemos que a normalidade não existe, que existem sim tentativas de equilíbrio constantes entre estabilidade e mudança, entre organização, desorganização e reorganização. E enquanto psicólogos aprendemos também sobre o nosso próprio abandono. É isso. Porque genuinamente estamos ali com uma pessoa durante meses ou anos com o objetivo de ajudá-la a não precisar mais de nós. É bonito trabalhar isso. A individualidade do outro, a sua autonomia, é bonito vê-lo partir numa versão diferente de si mesmo.
Que fique claro que não sou psicóloga ainda. Serei. O estágio aguarda-me e um tema de tese que escolhi e adoro e onde vou poder cruzar os caminhos que mais gosto, a psicologia e a representação. Muitas pessoas perguntam-me pela representação, se vou e se quero voltar a representar. Claro!! Sempre. E pelo meio ainda vou ter cinco filhos. Toda a gente me diz para me meter em tudo, menos nisso! (ahah)
Meus queridos, abri as persianas apenas. Vamos com calma. Que a vida seja cheia disso mesmo, de vida, de bom tempo, de histórias, de pessoas que fiquem orgulhosamente ao pé de nós e que nos admirem mesmo nas imperfeições dos dias e nos desafios das conquistas pelas nossas paixões.
Um grande abraço, muito cansado, mas sempre forte!
até já!
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