Sobre a felicidade.



Hoje deixo-vos aqui um breve pensamento. Algo que já tinha escrito uma vez. Se lerem os posts anteriores, talvez encontrem esta ponta solta algures. Há pontas soltas que merecem parágrafos e livros inteiros. Esta é uma delas. 

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Quando tinha dezoito anos gastei a maior parte das minhas poupanças num aparelho dentário, apesar do meu pai me ter tentado convencer que o meu sorriso tinha charme assim, todo torto! Recentemente, encontrei umas fotografias minhas de um fase particularmente feliz da minha vida. O que denuncia essa felicidade não é a memória que tenho daquele momento, nem o meu sorriso de três mil euros que se vê nas fotos... 

É algo mais...

Não há conta poupança, não há aparelho que corrija aquilo que nos vai na alma e que se rasga no olhar. Isso. Bela plenitude sentida no rosto rasgado, numa sentença aberta a todas as minhas rugas. Não me importava de envelhecer tudo de uma vez se pudesse perpetuar até hoje e para sempre aquele momento. 

Sabem, chego a questionar se seria funcional viver todos os dias assim. 
Estou a lembrar-me de um texto que li recentemente. Duas mães observam os filhos a brincar e a dada altura uma delas questiona: 

- Não achas que o meu filho é demasiado feliz?
- Como assim?
- Claro que eu faço tudo para que ele seja feliz, mas como eu cresci pobre - e agora pertenço à classe média-alta -  às vezes temo não estar a prepará-lo para o mundo real! 
(I don't know how to raise a middle class kid - she said!)

Desenvolver esta conversa seria entrar numa discussão sobre, por exemplo, a relação entre a ansiedade e a condição socioeconómica na educação das crianças. Talvez esta seja uma nova ponta solta a ser esmiuçada num próximo post.  

Por agora, o que me inquieta é a nossa incrível capacidade para sabotar a nossa própria felicidade. Inquietam-me as nossas internas câmeras de vigilância e o facto de a tragédia ser tão nuclear em nós.

Olho para aquela fotografia e penso:

- Antes que me assaltem, eu mesma vou perder aquele momento. Eu mesma vou desaparecer da festa mais cedo, nem me vou despedir de ninguém, vou embora sem avisar para não correr o risco de já não me lembrar onde moro no fim.

Compramos aparelhos de centenas que nos ajudam a sorrir melhor, compramos viagens, livros, aventuras, casas, carros, experiências de todo o tipo, mas sabotamos o que nos rasga gratuitamente o olhar com complicações e medos.

Não aceitamos a felicidade como algo passivo, algo que flui naturalmente. Precisamos de ajuizá-la para sentir uma certa autoridade sobre ela.

Acreditamos que não podemos ser e estar felizes, mas precisamos de fazer algo para sermos felizes; acreditamos que estamos sempre destinados a possibilidades de felicidade mais elevadas. 

A melhor virtude passa pelo diálogo e pela discussão dessas possibilidades. 
Contudo, parece-me que o pior vício é exactamente o contrário, é não poder discutir nenhuma possibilidade, sobretudo quando as partes que escolhemos para discutir e para stressar o todo - aquele todo que tão plenamente flui -  essas partes são as mais
insignificantes. 

Continuo a olhar para a fotografia e, num remate final, questiono-me:

que tipo de Homem queremos ser no assalto ao meu próprio bem-estar: um Homem virtuoso ou um Homem de vícios?

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2 comentários

  1. Olá Lili,
    Não tenho muito jeito para escrever estas coisas, na verdade escrevo e escrevo muito, podia passar os meus dias a escrever, mas, vou sempre continuar a achar que não tenho jeito…
    Como sabes sou tua seguidora aqui no site/blog há pouco tempo, talvez menos de um mês, mas já li tanto que parece que o sigo desde inicio. De todos as mensagens aqui escritas houve duas que me tocaram imenso, uma em que falas de ti e da tua história sobre a anorexia nervosa, e esta em que não falas apenas de ti. E é desta que eu quero falar, desta que tanto me diz, a mim e aos outros. Desta que fala de uma beleza que nem todos a conhecem ou que nem todos sabem que ela está ali de mãos dadas com eles. Como já o disse, eu revejo-me todos os dias neste texto, no teu incentivo de não mascaramos aquilo que é a nossa beleza. Durante a minha época escolar não houve um único ano em que não tivesse sido vitima de bullying, vitima de criticas sobre o meu rosto, a minha roupa, e até as minhas escolhas de amizades, foi uma fase difícil, mas que ultrapassei com uma força que não fazia ideia que tinha, mas sim é uma força minha, que hoje eu sei que existe e nada nem ninguém me pode tirar! Sim, eu sou bonita! Sim nós somos bonitas! Em relação ao aparelho para os dentes, ainda hoje me dizem que devo meter, eu não tenho complexos com o meu sorriso nem com a minha boca, eu não quero mudar aquilo que é precisamente o que me torna mais bonita, o meu sorriso! Sou uma pessoa feliz, bem com a vida, que tudo o que quer consegue, com luta, mas nada se consegue sem ela.
    Agora vamos falar de ti, querida Liliana. Tu és lindíssima, tens um ar de menina pequena e inocente, tens um ar fofinho como eu diria para as crianças de quem costumava cuidar. Para não falar da luz que irradias cada vez que falas dos teus amores ( a representação e a escrita) , quando falas neles rapidamente ganhas um brilho nos olhos, e aquelas pequenas rugas que não conseguimos esconder quando estamos felizes. É lindo de se ver! Continua e nunca, mas, nunca percas a capacidade de sonhar. Obrigada pela tua partilha!

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    1. Antes de mais, obrigada por acompanhares o blog e por deixares aqui os teus pensamentos e o teu feedback em relação a mim e ao meu trabalho. Fico feliz pela força que demonstraste face a essa fase de bullying. Bem sei o que isso é. Com a idade e com o tempo vamos desenvolvendo uma imunidade face a certas energias e pessoas que nos perturbam. Temos de nos libertar delas. Deixá-las ir, sem rancor, sem defesas, sem grandes lutas e rodearmo-nos de quem nos faz bem. Ninguém feliz e de bem com a vida ataca o próximo. Perdoa e "Let them go!". Procura sempre a melhor versão de ti, mas que a partida para essa versão seja sempre mais interna do que externa. Se sentires que tens de corrigir o sorriso, corrige, se tiveres de cuidar da tua pele, cuida... se tiveres de ir ao ginásio, se sentires que tens de comer menos açucar... se tiveres de fazer dieta... faz isso tudo com saúde e equilíbrio emocional e que seja, acima de tudo um caminho teu e não uma moda qualquer, uma tendência, um desespero para atingir um fim, uma felicidade, uma aprovação de alguém... beijinho eu costumo dizer "namora a tua própria vida!":=) Obrigada por leres

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